quinta-feira, novembro 13, 2025
Valério Mesquita

Pré-candidato postal

Valério Mesquita

mesquita.valerio@gmail.com

Recebi dia 29 passado, carta do Rio de Janeiro. Já nem me lembrava mais do seu remetente, antigo morador de Macaíba. Saiu de lá pelos anos 80 ao ingressar na Marinha Mercante Brasileira. Por último, trabalhava no Porto do Rio onde se aposentou com gordos salários, por sinal. Conheci seu sobrinho Zé Perequeté, figura popular, músico da Banda Municipal. Exímio tocador de tarol. Perequeté jogava sinuca tão bem no bar Gato Preto que arrancava profusos aplausos dos circunstantes. Também viajou para o sul e dele nunca mais se teve notícia.

O seu tio missivista é Balduíno Vevé, que se anuncia pré-candidato a prefeito de Macaíba às eleições de 2026. Anuncia o seu regresso à cidade no final de dezembro de 2025, já para enfrentar a batalha. Disse na missiva que teve três sonhos com tal perspectiva e que não iria abandonar a urbe que lhe serviu de berço. Balduíno é uma figura curiosa e obstinada. Falou ainda que participou de inúmeros movimentos grevistas na capital carioca e que pertence à ala radical do PC do B. Interessante a maneira de como se dará o seu regresso à cidade pelo rio Jundiaí, sentido Natal/Macaíba, conforme está projetando.

Relembrou com ternura o velho rio que antes era o meio de navegação e transporte com Natal, de passageiros e cargas. Citou a lancha “Julita” do mestre Antônio dos anos 30 e o mestre João Lau. Tudo, acredita, deve ser resgatado tanto para fins comerciais como turísticos. A sua chegada, relata ainda, será triunfal, através de uma procissão de barcos e jangadas com ele à frente, tal e qual o descobridor dos sete mares. Quer as margens engalanadas com bandeiras e faixas desde o canal do rio em Mangabeira até a ponte no centro de Macaíba, onde ocorrerá o desembarque triunfal ao som daquela música que consagrou Agenor Maria ao Senado em 1974: “Ô marinheiro é hora, é hora de viajar…”

Balduíno Vevé, percebi, pelas palavras entusiasmadas de sua carta, está efetivamente decidido a enfrentar os candidatos a prefeito e pretende residir, segundo afirmou, no centro, perto da prefeitura. Por último, sustentou a tese de que Macaíba tem uma tradição fluvial e lacustre. Aí alinhou o número de lagoas do município para as quais tem projeto: Lagoa das Pedras, do Espinheiro, Lagoa do Mato, Lagoa dos Currais, Lagoa Nova, Lagoa do Pitimbu, das Marias, do Lima, sem falar nos riachos e nas enchentes periódicas que inundaram a cidade. Daí acreditar também que só um marinheiro e lobo do mar como ele, está apto a navegar nas águas de um novo tempo, e para tanto, vem munido de bússola, régua e compasso.

O certo é que, ainda não respondi a sua correspondência e nem sei como descrever, conforme me pediu, a situação política de minha terra. Perdi o entusiasmo de falar sobre tal coisa. Apenas, um sentimento me anima. Como gostaria que tudo isso ocorresse e que Balduíno Vevé botasse as águas pra rolar, fazendo marolas, surfando, de quepe e farda de marinheiro, se possível ao som do “cisne branco”, antiga canção da marinha ressuscitadora de rios e lagos moribundos.

O missivista não deixou o número do celular. Prefere o contraponto do anonimato, por enquanto. Quis saber se a “Amplificadora Municipal, a Voz de Macaíba”, ainda estava no ar. Claro que vou responder que não! Isso foi um serviço de auto-falantes da prefeitura local colocado sobre os postes de iluminação pública, já defasado desde o advento do rádio, da tv e dos veículos de publicidade. O fato é que Balduíno como candidato não inova. Mas, de velas pandas ao vento carpidor da maré do Jundiaí, ele vem aí…!

(*) Escritor.

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