domingo, outubro 5, 2025
Brasil

PCC movimentou R$ 6 bi com imóveis, postos, motéis e franquias, diz Receita

Foto: Divulgação/Receita Federal

A Receita Federal descobriu que o grupo criminoso envolvido no esquema de lavagem de dinheiro do Primeiro Comando da Capital (PCC) era dono de 267 postos de combustíveis, 60 motéis, 98 lojas de franquia, além de empreendimentos imobiliários no Brasil.

Em quatro anos, de 2020 a 2024, essas empresas movimentaram quase R$ 6 bilhões, segundo a investigação. O empresário Flávio Silvério Siqueira, o Flavinho, é apontado como principal beneficiário.

O esquema do crime organizado usando motéis em nomes de laranjas foi revelado nesta quinta-feira (25) como parte da Operação Spare.

Essa operação é um desdobramento da Operação Carbono Oculto – que revelou como o PCC usa fintechs do sistema financeiro da Faria Lima. Segundo a Receita Federal, recursos de origem ilícita eram inseridos no setor formal por meio de empresas operacionais.

Os investigadores dizem que a relação entre esses empresários do setor de combustíveis, motéis, lojas e integrantes do PCC facilitava a lavagem do dinheiro do tráfico.

“Os esquemas acontecem de maneira bastante semelhante. No caso dos motéis, eles eram, eles são um setor que habitualmente trabalham muito com o dinheiro vivo, né? E eles precisam introduzir esse dinheiro na economia. O que nós percebemos é que a movimentação financeira desses motéis era bastante superior ao valor declarado por eles como receita”, afirmou Marcia Meng, superintendente da Receita Federal em São Paulo.

Artigos de luxo levantaram suspeita

A compra de artigos de luxo milionários, como iate, Lamborghini e helicópteros, ajudou a levantar a suspeita da Receita Federal e do Ministério Público paulista (MP-SP) sobre a movimentação financeira de uma rede de cerca de 60 motéis do PCC no estado de São Paulo.

Entre os bens adquiridos pelos motéis investigados estão:

Iate de 23 metros, inicialmente comprado por um dos motéis e depois transferido a uma empresa de fachada, que também adquiriu um helicóptero;
Helicóptero (modelo Augusta A109E) foi comprado em nome de um dos investigados;
Carro esportivo Lamborghini Urus adquirido por empresa patrimonial;
Terrenos onde estão localizados diversos motéis, avaliados em mais de R$ 20 milhões.

A aquisição desses bens acendeu o sinal de alerta porque, além de estar incompatível com a receita declarada, não fazia sentido para um motel comprar.

No caso específico dos motéis, eles também acabavam adquirindo bens que não fazem muito sentido um motel adquirir. Eles compravam terrenos, imóveis, helicópteros. Bens de luxo que não estavam compatíveis com a receita deles.

— Márcia Meng, superintendente da Receita Federal em São Paulo

Segundo a Receita Federal, esses motéis movimentaram mais de R$ 450 milhões entre 2020 e 2024 em recursos financeiros, valores incompatíveis com o que era declarado às autoridades fiscais.

“Com os recursos obtidos por meio do esquema, os alvos adquiriram imóveis e bens de alto valor, diretamente ou por meio de empresas patrimoniais e de fachada. (…) Estima-se que os bens identificados representem apenas 10% do patrimônio real dos envolvidos”, disse a Receita Federal em comunicado.

De acordo com Meng, a movimentação financeira diferente da declarada como receita deixa evidente a origem ilegal. “Fica claro que ali não é apenas receita [do serviço de motel], mas ali entrava dinheiro ilegal como se fosse atividade empresarial. Mas não sendo”, disse.

Ela explicou que esse “é um modus operandi bastante normal”.

“Antigamente, eles [o crime organizado] não estavam inseridos na economia. Eles usavam empresas de fachada que não tinham atividade empresarial, e aparecia a receita sem atividade operacional. Hoje, isso está mais sofisticado. Eles usam empresas formais em vários tipos de atividades, mas a receita não dá conta da grande movimentação bancária que ele tem”, afirmou.

Saiba mais aqui.

g1

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