quinta-feira, novembro 13, 2025
Geral

A sua criança interior

Foto: Reprodução

Na mesma data em que milhões de católicos se curvam diante da padroeira do Brasil, buscando forças e renovação para a travessia desses dias pandêmicos e inquietantes, recordamos da criança, igualmente festejada na mesma oportunidade.

Não nos referimos aqui ao menino ou a menina, assistidos pela mesa farta, onde o leite e o pão se fazem presentes a cada amanhecer. Nenhum destaque para o petiz sadio, cujos exames de rotina são realizados junto ao pediatra mês a mês, garantindo uma infância saudável.

Nenhuma menção aos filhos, cujos lares são próprios, dotados de cômodos confortáveis, onde ele possa repousar em berços de alto custo, assistido por servidoras bem remuneradas.

Aqui, destacamos no dia das crianças justamente aquelas que o mundo parece ter esquecido, relegadas ao abandono e à desassistência.

São estes cidadãos mirins, que cada manhã, seja feriado ou não, se dirigem aos lixões das grandes cidades, revolvendo entre abutres e ratazanas o descarte de qualquer alimento ou objeto velho que possa se converter em renda no comércio dos recicláveis.

Frisamos as crianças cujos lares são as ruas e os grotões de miséria, erguidos com o papelão descartados pelo lado rico da sociedade.

Apelamos em favor daquelas meninas que nunca manusearam nas mãos sujas uma boneca que diz “mamãe” quando tem seu abdômen apertado. Os meninos cobertos de fuligem que nunca puxaram com um barbante velho um carrinho de plástico, vivendo a infância que tiveram de superar como etapa da vida em nome da sobrevivência.

Não destacamos as crianças que possuíram a ventura de serem cuidadas em creches ou tiveram as babás particulares, lhes pajeando a meninice desde muito cedo, mas sim recordamos aquelas que não tiveram a sorte de manipular livros infantis, nunca tocaram o piso encerado de um educandário e se viram criadas de qualquer jeito por avós abnegadas, que supriram em lágrimas e suor os pais, cujas vidas foram prematuramente ceifadas na guerra urbana que hoje toma conta de muitas metrópoles agitadas.

Que esperar de uma sociedade que abandona seus filhos pequenos à própria sorte?

Como garantir futuro para a geração mirim sem educação de qualidade e sem que as famílias tenham do que viver?

Milhões de Espíritos volvem ao carro físico a cada ano, buscando na pedagogia da reencarnação o reajuste de seus desconcertos íntimos, a quitação com a própria consciência e o temporário olvido das dores provocadas pela consciência de culpa de delitos transatos.

Suplicam, sem palavras, orientação e proteção para esse período mágico de suas vidas, que é a infância onde, à semelhança de argilas frágeis, ficam sulcadas para o resto da existência, conforme a impressão nelas deixadas. Muitas começam a trabalhar desde muito cedo, ajudando o sustento familiar.

Outras, tem que olvidar compulsoriamente os brinquedos e as cantigas de roda, atravessando largos períodos de escassez e miséria.

Aceitemos ou não, são cidadãos da mesma pátria, com os mesmos direitos da banda privilegiada por abundância de recursos e acesso farto à educação de qualidade.

Suplicam apenas que lhes possamos garantir o viver o período infantil, a fim de não rumarem para incerto futuro.

Houve ocasião em que Jesus foi procurado pelos meninos e meninas de Seu tempo, e o colegiado de homens sisudos que O seguia criou barreiras impeditivas para esse acesso. O Amigo Celeste as acolheu, nelas retratando a pureza perdida e a inocência que de muitos se desvaneceu na atormentada viagem pelos testemunhos da vida.

Proclamou que o Reino dos Céus é para aqueles que se lhe assemelhem.

Tanto quanto estejas ao teu alcance, lembra-te dos pequeninos enjeitados.

Estende alguma migalha de teus recursos para viabilizar uma vida que se estiola nas latas de lixo e nos aterros sanitários.

Patrocina, se puderes, a educação de um desses pequeninos, até aqui divorciados de uma cartilha e ignorantes do poder fabuloso das 23 letras do alfabeto, quando articuladas com discernimento e cultura.

Quando elas aprenderem contigo a delas se valerem, na construção da palavra, simplesmente dirão ou escreverão em caracteres inesquecíveis:
– Tio, muito obrigado!

Por Marta
Juazeiro, 12.10.2021

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