Insônia infantil cresce com falta de rotina e uso excessivo de eletrônicos

Durante a madrugada, milhares de crianças que deveriam estar dormindo rolam na cama. Irritadas, desafiam a paciência dos pais exaustos, que tentam embalar um sono que teima em não chegar. A insônia infantil, distúrbio ainda pouco discutido fora dos consultórios, preocupa especialistas e representa um obstáculo ao desenvolvimento saudável agravado pela falta de rotina nas famílias e uso de eletrônicos.
Conforme o médico do sono e psiquiatra Bruno Lacerda, a insônia é a dificuldade para iniciar, manter ou despertar precocemente do sono, independente de gênero ou idade. “A diferença clínica que a gente observa entre as faixas etárias é porque na criança, em geral, ela fica mais irritadiça. No adulto, no idoso, a gente observa mais sonolência, mais fadiga. Para a criança, o mais comum é observar a criança mais irritada a princípio”, explica.
A insônia comportamental da infância (ICI) é o distúrbio do sono mais comum em crianças. “Isso ocorre tanto pela falta de limites, que os pais não impõem, como principalmente pela presença dos dispositivos eletrônicos”, diz Bruno Lacerda. Na insônia há um componente genético: “Geralmente os pais ou familiares possuem uma tendência genética à insônia. Mas o que contribui para a cronificação são, principalmente, os maus comportamentos e o ambiente”, afirma.
Segundo o especialista, o número de casos de insônia infantil tem aumentado devido à ausência de limites. “Depois da revolução tecnológica, com a presença do celular, que trouxe várias ferramentas num único aparelho, os pais passaram a deixar as crianças mais tempo nesses dispositivos, pois viram uma forma de acalmá-las”, alerta.
A quantidade de sono necessária varia ao longo da vida: recém-nascidos precisam de muitas horas para o desenvolvimento adequado do corpo e do cérebro. O sono dos recém-nascidos é naturalmente polifásico, ou seja, distribuído em vários períodos ao longo do dia e da noite.
Um bebê pode dormir até 16 horas por dia. “Com o passar do tempo, isso vai diminuindo. Até os 6 anos, mais ou menos, a criança começa a ter um sono semelhante ao do adulto, com maior número de horas concentradas à noite”, explica o médico especialista em sono.
Na adolescência, a demanda por sono aumenta devido a mudanças hormonais. Em geral, os adolescentes precisam de cerca de 9 horas de sono por noite, um fator que se reflete diretamente no rendimento escolar e no desempenho cognitivo. Conforme o médico, fatores comportamentais dessa fase agravam a qualidade do sono: “O adolescente ele já quer ter a sua independência, aí é que ele se coloca mesmo à frente dos dispositivos eletrônicos. Muitas vezes dorme tarde, o que faz com que atrase a fase do sono dele”.
Os aparelhos eletrônicos atrapalham o sono por emitirem luz que engana o cérebro, indicando que ainda é dia e inibindo a produção de melatonina, hormônio que induz o sono. “A gente consegue ritmar o corpo com o claro e o escuro. Se você se expõe logo cedo ao sol, suprime a produção de melatonina e começa a despertar mais cedo”, explica.
Fonte: Portal Tribuna do Norte