Usuária do ISD com baixa visão vive expectativa para cursar Direito na UFRN
Enxergar além dos próprios limites. Esse é o desafio diário de Dilena Mara Lemos Matos, de 45 anos. Diagnosticada ainda na infância com um problema na visão, que a fez perder gradualmente a capacidade visual, a sul-mato-grossense de Dourados se prepara para mais um capítulo em sua trajetória acadêmica: cursar Direito na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Frequentar uma universidade não será novidade para Dilena. Ela é formada em Geologia pela Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) e em Gestão Ambiental pelo Instituto Federal da Paraíba (IFPB), além de possuir mestrado em Engenharia Mineral pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Mesmo com toda essa bagagem acadêmica, iniciar um curso em outra área do conhecimento, em uma instituição de ensino diferente, gera boas expectativas e ansiedade.
A escolha pelo curso de Direito não foi um objetivo inicial. A princípio, Dilena pensava em ingressar em Serviço Social, mas mudou de ideia ao longo do cadastro da nota do Enem no SiSU. “No terceiro dia de inscrição, percebi que a minha nota era suficiente para entrar em Direito e arrisquei. Ainda bem que deu tudo certo”, comemora Dilena, que preencheu uma das vagas afirmativas para pessoas com deficiência. Além da possibilidade de ingresso, ela também percebeu que o curso de Direito poderia abrir novas oportunidades profissionais e de atuação na defesa dos direitos das pessoas com deficiência.
Para se preparar para o Exame Nacional do Ensino Médio, Dilena contou com o auxílio da equipe multidisciplinar do Instituto Santos Dumont (ISD), Organização Social vinculada ao Ministério da Educação, localizada em Macaíba. Há três anos, ela é atendida pela linha de cuidado em Reabilitação da Pessoa com Deficiência Visual, incluindo, além do atendimento médico oftalmológico, treino de tecnologia assistiva digital, serviço social e psicoterapia. “Quando chegou no ISD, Dilena disse que queria se preparar para concursos públicos e exames de seleção. Por ela ser uma pessoa com baixa visão, trabalhamos com recursos de tecnologia assistiva a leitura aumentada e alto contraste de telas, e orientamos sobre os recursos de prova ampliada e de auxílio a ledor e transcritor assegurados por lei em provas e concursos”, explica a preceptora pedagoga do ISD, Juliana Magro.
Além de se preparar para as provas, a reabilitação no ISD também contribuiu maior autonomia para Dilena. Ela aprendeu, por exemplo, a usar bengala e identificar obstáculos ao seu redor, que podem passar despercebidos em função da baixa visão. Esses avanços foram essenciais para sua independência no dia a dia, facilitando sua mobilidade e a interação com o ambiente.
O que é a baixa visão
A baixa visão é caracterizada pela redução significativa da capacidade visual, mesmo com o uso de óculos, lentes de contato ou outros tratamentos. Pessoas com baixa visão podem ter dificuldades para realizar atividades cotidianas, como ler, escrever e se locomover, mas ainda possuem algum grau de visão funcional.
No caso de Dilena, a baixa visão é sequela de uma toxoplasmose adquirida durante a sua gestação. Como consequência dessa condição congênita, a paciente afirma que perdeu gradativamente a acuidade visual, deixando de enxergar pelo olho esquerdo e reduzindo a visão do olho direito a menos de 20%.
O problema na visão de Dilena foi identificado quando ela tinha 2 anos de idade. No entanto, por falta de informação e acesso a serviços de saúde à época, ela não recebeu tratamentos clínico e pedagógico adequados durante a infância.
“Lembro de na escola precisar ir até o quadro para conseguir ler o que a professora escrevia. Os meus colegas achavam que eu queria aparecer, que estava brincando. Mas, na verdade, eu não conseguia enxergar o quadro. Naquela época, ninguém sabia como lidar com a minha condição”, conta.
As dificuldades permanecem até hoje, mas são superadas com esforço, dedicação e apoio de familiares e amigos. Diversos agentes compuseram e fortaleceram a rede de apoio de Dilena nesse caminho, desde profissionais da saúde a advogados, colegas de universidade e professores dos cursos que ela frequentou.
“Muita gente ajudou Dilena e a nossa família. Mas, o mais importante, é destacar a força de vontade dela, o desejo de continuar e de conseguir ir além dos limites da baixa visão. Essa condição nunca foi um impedidor de nada. Pode ter dificultado algumas coisas, mas Dilena nunca desistiu”, afirma o esposo de Dilena, José Luís Santos da Silva.
Ajudar é um verbo que não cansa de ser repetido por Dilena. Ela espera, quando concluir o curso de Direito, contribuir para que mais pessoas com deficiência tenham acesso à justiça. “Que ninguém precise passar pelas dificuldades que passei para conseguir o básico. Quero ajudar outras pessoas com deficiência a terem o que é seu por direito”, reitera.
Reabilitação visual no ISD
O Instituto Santos Dumont disponibiliza o atendimento gratuito a pessoas com deficiência visual através da Linha de Atenção e Cuidado em Reabilitação da Pessoa com Deficiência Visual, inserida no Centro Especializado em Reabilitação da instituição (CER ISD). A iniciativa estabelece estratégias de orientação, habilitação e reabilitação de pessoas com deficiência visual, com objetivo de promover a qualidade de vida e a inclusão educacional e social.
O público-alvo é formado por pacientes do SUS de qualquer idade. O acesso ao atendimento se dá por encaminhamento direto de um médico oftalmologista, com laudo definido de cegueira ou baixa visão, ou por procura espontânea por meio do agendamento da triagem do CER ISD.
A Linha de Atenção e Cuidado em Reabilitação da Pessoa com Deficiência Visual também recebe pacientes na faixa etária de 0 a 18 anos de escolas públicas dos municípios que compõem a 7ª Região de Saúde do RN (Macaíba, São Gonçalo do Amarante, Parnamirim, Natal, Extremoz), onde está inserido o CER ISD, atendendo a creches e níveis escolares do Ensino Infantil ao Ensino Médio.
Serviço
Saiba como fazer o agendamento para ter acesso à Linha de Atenção e Cuidado em Reabilitação da Pessoa com Deficiência Visual
Telefones para agendamento: (84) 4042-0044 / (84) 4042-0033
Documentação necessária: Cartão do SUS; Documento de identidade e comprovante de residência.
Instituto Santos Dumont – Assessoria de Comunicação